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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ernesto



Ernesto sem dúvida é um curta interessante. Através de dois personagens atuantes, consegue compilar também dois comportamentos essenciais de uma sociedade pós-moderna: a individualidade e o coletivo indiferente. Este último consegue ser representado na figura do psicólogo (Dr. Hugo) que não parece se importar realmente com o problema do paciente. Erra o seu nome no começo da entrevista, e não parece demonstrar maior preocupação ao longo dela. Quanto a Pedro (e não Paulo) é o indivíduo que refugiou-se no cotidiano solitário da única companhia do seu cachorro que morrera (Ernesto – que “adorava fandangos” e “tinha um sono leve, sabe?”), sentindo alívio quando atravessava a porta para dentro do seu apartamento novamente, voltando do mundo exterior. Quando Pedro busca a ajuda do psicólogo é o primeiro momento em que o indivíduo busca romper com seu cotidiano solitário. Em troca, uma sociedade que lhe é indiferente lhe diz que para recuperar-se de ter perdido algo – e não alguém! – deveria procurar uma namorada. Ou um namorado.

A cena de despedida no final da consulta quando o psicólogo, de pé, informa ao cliente, sentado, do término da sessão, não deixa de ser uma metáfora para a longa-duração de um ciclo vicioso da indiferença cotidiana que alimenta um individualismo também cotidiano. O abraço não correspondido de Pedro é a segunda tentativa insucedida de travar contato com o mundo exterior. Quando caminha na Redenção, e tira os fones sorrindo para uma garota, fracassa na terceira tentativa. Não tem muito o que fazer a não voltar pra casa e olhar para fora pela janela do seu apartamento. As cenas do longo e estreito corredor sendo percorrido pelo solitário Pedro corroboram com a continuidade do seu pequeno cosmos, circular e vicioso.


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