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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Bella Notte

A noite era quente, e eu escutava os grilos lá fora na imensidão, espalhados pelo campo. Da janela via as estrelas cintilarem em uma dança harmoniosa de verão precoce. Não sei o que me deixava mais tranquilo, se as estrelas ou a luz do lampião que iluminava meu quarto - refletindo sua luz dourada e quente pelo assoalho de madeira, enquanto meu corpo calmamente pairava sobre peitoral da janela.

A Lua, não estava lá, pois era Negra. E por mais que meu coração quisesse acelerar-se, calmamente sabia que seu brilho em algum lugar havia de residir, a iluminar meus pensamentos, mesmo longe, em outra rua, ou outros bairros desse universo. 

Respirava profundamente imaginando como deveria estar bela e cheia. A velha lua cansada de suas labutas que queria apagar-se. E sabia que jamais deixaria que a escuridão se apossasse de sua beleza por mais de três dias. De pensar, sentia a ponta da lança cravar-me o peito, se algum dia a visse escurecer-se diante de meus olhos, por mais de algumas horas. Abria então a janela em todas as noites quentes, esperando vê-la brilhar sob os céus claros e imensos. E em troca sorrir radiantemente aos céus, na vontade que minha alegria pudesse intensificar a sua luz.

O luar era escuro e eu seguia debruçado sobre a janela, fazendo a mesma prece silenciosa às estrelas. Pedia-lhes que compartilhassem seus brilhos com a Lua Negra, até que esta se enchesse novamente. Seu brilho alegraria meu coração e ela se encheria ainda mais com meu sorriso, sussurrando aquele doce "Boa Noite" sereno que saia de meus lábios - ganhando altitude com os ventos da campina, até chegarem à imensidão e beijarem-lhe a face.

Sempre antes de deitar-me, cantarolava então em oração de agradecimento...


"Olhos fechados pra te encontrar
Não estou ao seu lado mas posso sonhar 
Aonde quer que eu vá, levo você no olhar
Longe daqui, longe de tudo
Meus sonhos vão te buscar..."




"Boa Noite, amor... Estou abraçando você agora"

Trecho de música "Aonde Quer Que Eu Vá"


sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ernesto



Ernesto sem dúvida é um curta interessante. Através de dois personagens atuantes, consegue compilar também dois comportamentos essenciais de uma sociedade pós-moderna: a individualidade e o coletivo indiferente. Este último consegue ser representado na figura do psicólogo (Dr. Hugo) que não parece se importar realmente com o problema do paciente. Erra o seu nome no começo da entrevista, e não parece demonstrar maior preocupação ao longo dela. Quanto a Pedro (e não Paulo) é o indivíduo que refugiou-se no cotidiano solitário da única companhia do seu cachorro que morrera (Ernesto – que “adorava fandangos” e “tinha um sono leve, sabe?”), sentindo alívio quando atravessava a porta para dentro do seu apartamento novamente, voltando do mundo exterior. Quando Pedro busca a ajuda do psicólogo é o primeiro momento em que o indivíduo busca romper com seu cotidiano solitário. Em troca, uma sociedade que lhe é indiferente lhe diz que para recuperar-se de ter perdido algo – e não alguém! – deveria procurar uma namorada. Ou um namorado.

A cena de despedida no final da consulta quando o psicólogo, de pé, informa ao cliente, sentado, do término da sessão, não deixa de ser uma metáfora para a longa-duração de um ciclo vicioso da indiferença cotidiana que alimenta um individualismo também cotidiano. O abraço não correspondido de Pedro é a segunda tentativa insucedida de travar contato com o mundo exterior. Quando caminha na Redenção, e tira os fones sorrindo para uma garota, fracassa na terceira tentativa. Não tem muito o que fazer a não voltar pra casa e olhar para fora pela janela do seu apartamento. As cenas do longo e estreito corredor sendo percorrido pelo solitário Pedro corroboram com a continuidade do seu pequeno cosmos, circular e vicioso.


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Comunhão


Queria andar pelas ruas de lugar algum
Vivendo sonhos dos quais já não lembro nenhum.
Talvez subir em uma montanha bem alta,
Até que da realidade já não sinta falta.

“Confias em mim, como confio em ti?”
“Da mesma forma em que te amei outrora, e um verdadeiro amor conheci.”

Eram as palavras dos amantes que eu não mais sentia.
Por isso que, triste, já não subo as ruas, nem percorro as montanhas, como outrora fazia.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Primeiro Sem Nome


Curvas fazem teus cabelos,
Assim como curvas fazem meu coração.
Ao te olhar, pensar e imaginar,
E assim perder atenção.

Tal como - e mesmo como,
um sátiro, que dança às fogueiras do verão.

Agitaria minhas lembranças
as que vieram, e as que virão!

Pois uma taça não se enche sozinha
Tampouco o fazem as amarras de um cordão

E sempre duas mãos são precisas
Para consagrar o que os deuses dirão.


(Odir)
Lobo Mau,
30/01/2010

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