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MAKE UP

Música por MadBlush
Direção e Roteiro por Robson Rogers



O vídeo mostra-se um tanto pós apocalíptico, principalmente nas tomadas externas, paisagens de aço e concreto destruído, um cenário decadente sendo ofuscado pela maquiagem de um personagem espacial que invade nossas casas usando de todas as suas armas para manipular as mentes e criar um exército de olhos pintados e lábios borrados por batom.

Uma nova humanidade, com tantos rostos quanto desejarem, com tantas máscaras quanto quiserem, em nome do que é belo, em nome do que é arte. Quase como uma reencarnação dos maravilhosos tempos de Glam Rock e seus personagens transgressores, da moral e bons costumes, é que MadBlush nos é apresentado no vídeo de "Make Up".

E assim, como em "I Wanna Be Real", o visual anda de mão dadas com a parte sonora, a letra fica muito bem representada por cenários caóticos e um trabalho de montagem muito bom, criando toda uma aura de futurismo robótico e artificial que valorizam a obra.

Destaco também, e principalmente, os bailarinos com suas coreografias que lembram um pouco a dos franceses do Daft Punk e o trabalho impecável de maquiagem feito pela produção. A obra funciona como uma espécie de continuação de "I Wanna...". Em "Make Up", MadBlush passa da afirmação disfarçada de desejo para a dominação total, toma de assalto seu espaço e transforma o mundo com sua "maleta carregada de armas". Firmando-se como um senhor do glamour do submundo, invertendo a ordem entre mainstream e underground, mais do que invertendo, mesclando o highlight com o dark. A imagem de um futuro oxidado belamente coberto por cores. Um tempo tão presente quanto qualquer outro, o poder da beleza sobre a destruição e da arte como auto-flagelo.

Com certeza uma das obras que colocam a maquiagem em seu devido lugar, uma forma de expressão eterna e valorosa que se perpetuará de geração em geração graças à artistas e profissionais como MadBlush e os envolvidos no projeto do vídeo.




I WANNA BE REAL

Música por MadBlush
Direção e roteiro por Robson Rogers





MadBlush é um tipo raro de artista nos dias de hoje. Digo um tipo raro por se tratar genuinamente de um artista. Figura conhecida no underground de Porto Alegre que vem ganhando cada vez mais destaque e inovando em uma cena que há anos se sustenta em repetições.

O vídeo de "I Wanna Be Real" é um belo exemplo de competência e bom gosto da primeira à última cena, sem contar os simbolismos (talvez obras da minha mente) que permeiam a representação visual da música.

Destaco a sábia insistência em explorar por meio de "planos detalhe" duas grandes características do artista, a boca e os olhos. A técnica casa perfeitamente com a letra e a interpretação da canção, "I Wanna Be Real" soa muito mais como uma afirmação do que como um desejo, no fundo MadBlush sabe de sua realidade, e prova ser e fazer tudo aquilo que deseja, é a beleza no bizarro e o seu contrário também.
Ele transgride, é o marginal de luxo, um terrorista que almeja atacar a mídia de dentro para fora, e isso fica muito bem ilustrado com as cenas em que seu rosto aparece em televisões, sempre em close, com olhos e bocas que hipnotizam, afirmando por meio de um desejo, influenciando por meio de beleza e sonoridade.

Porém, apesar de toda essa busca pelo destaque, ele, o artista, criador e criatura, se coloca acima dos caminhos manipuladores da mídia de massas. O que fica muito bem demonstrado com a cena onde caminha sobre os televisores, displicente, ameaçador, luxuriante... Quase como um dândi que faz do underground o seu mundo, ou seria o contrário?

O belo trabalho de iluminação e figurino consegue cumprir com louvor a tarefa de envolver o personagem mezzo físico, mezzo imaginário em uma atmosfera de spotlights sem perder a característica alternativa.

Finalizando, o vídeo de "I Wanna Be Real" complementa a música, não se sobrepõe ou se submete ao som, completam-se e encantam, duas obras de arte à parte que são ainda melhores se contempladas juntas. Tanto artista quanto diretor e equipe conseguem nos fazer sentir que ainda existem verdadeiros talentos, com convicções e capacidade de produzirem arte nesse país tão órfão de cultura.


Texto de Yuri Pospichil



ERNESTO

Escrito e dirigido por Robson Rogers



Ernesto sem dúvida é um curta interessante. Através de dois personagens atuantes, consegue compilar também dois comportamentos essenciais de uma sociedade pós-moderna: a individualidade e o coletivo indiferente. Este último consegue ser representado na figura do psicólogo (Dr. Hugo) que não parece se importar realmente com o problema do paciente. Erra o seu nome no começo da entrevista, e não parece demonstrar maior preocupação ao longo dela. Quanto a Pedro (e não Paulo) é o indivíduo que refugiou-se no cotidiano solitário da única companhia do seu cachorro que morrera (Ernesto – que “adorava fandangos” e “tinha um sono leve, sabe?”), sentindo alívio quando atravessava a porta para dentro do seu apartamento novamente, voltando do mundo exterior. Quando Pedro busca a ajuda do psicólogo é o primeiro momento em que o indivíduo busca romper com seu cotidiano solitário. Em troca, uma sociedade que lhe é indiferente lhe diz que para recuperar-se de ter perdido algo – e não alguém! – deveria procurar uma namorada. Ou um namorado.

A cena de despedida no final da consulta quando o psicólogo, de pé, informa ao cliente, sentado, do término da sessão, não deixa de ser uma metáfora para a longa-duração de um ciclo vicioso da indiferença cotidiana que alimenta um individualismo também cotidiano. O abraço não correspondido de Pedro é a segunda tentativa insucedida de travar contato com o mundo exterior. Quando caminha na Redenção, e tira os fones sorrindo para uma garota, fracassa na terceira tentativa. Não tem muito o que fazer a não voltar pra casa e olhar para fora pela janela do seu apartamento. As cenas do longo e estreito corredor sendo percorrido pelo solitário Pedro corroboram com a continuidade do seu pequeno cosmos, circular e vicioso.


Texto de Odir Fontoura

1 COMENTE AQUI:

Robison disse...

Muito bom cara! Parabens!
Curti muitoo!
=]

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