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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Novos Passos (Sem...)


Em certos momentos me relembro dela. Em outros, a esqueço. É como apagar da mente tudo que vivemos. Criar uma ilusão de que nunca existimos.

Quando algo morre, um novo ciclo se inicia em nossas vidas. Uma nova parte de nós morre para a outra renascer. Uma nuvem branca passa e cega. Os olhos vêem somente o que querem ver: a nova vida.

Não enxergam o que querem esconder: a falta Dela.

E, a passos rápidos, caminhamos em linha reta, evitando olhar para além do horizonte, por puro medo. "Melhor olhar pra baixo, para não tropeçar!". E quando percebermos, estaremos caminhando como novos homens. Homens decididos, em busca de um ideal, de uma moral.

Sorriremos para aqueles que passarem por nós. Acenaremos para os que caminham do outro lado da rua. Subiremos escadas e desceremos degraus. Empurraremos portas que devem ser empurradas. E puxaremos as que devem ser puxadas. Até que...

Um sorriso aqui, outro lá. Um abano, um aperto de mão. Ternos e gravatas a desfilar. Carros a andar. A poluir. E o farol aberto que se fechará. Um momento de distração e, o Horizonte Onipresente a nos encarar: sem Ela.

Então nos atordoaremos, passaremos os dedos entre os cabelos. Nos desconfortaremos dentro de um terno caro. Cruzaremos a avenida correndo, fugindo... Empurraremos portas que deviam ser puxadas e puxaremos as que, de certo, deveriam ser empurradas.

Nos relembraremos que aquela não é nossa vida. Nos recordaremos da nuvem e dos olhos cegos por vontade.

Sim! A saudade irá bater. Irá doer. Nos relembraremos que Ela um dia esteve lá. Ao contrário da história que haviamos criado: de que Ela nunca existiu.

E parado, sem forças, olharemos para trás, e veremos o que não queriamos ver. O que evitávamos perceber.  Aquilo que fomos e negávamos. O que realmente somos, e, iremos, para sempre, ser - só que, agora, e, para sempre, sem Ela.


Publicado originalmente em 21 de junho de 2009

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Para Elizabeth, Que Esqueceu A Paixão.


E então, não mais apaixonou-se.
Pobre Elizabeth.

Não mais quis saber qual a sensação
da chama que queima em seu peito.
Nem sentir as incontrolaveis batidas
de seu acelerado coração.

A paixão, dizia Elizabeth,
era entorpecente droga da mente,
a droga que desligava a razão.

Preenchia os dias de um sol brilhante
e soprava em seu pescoço
a mais refrescante brisa da estação.

No entanto, bem sabia ela:
A paixão a deixaria nua no deserto,
quente e seco, caso não houvesse retribuição.

E assim, Elizabeth, não mais se aventurou.
Viveu a vida com cautela e solidão do ser
que está no mundo somente por estar,
sem viver loucuras de uma chuva de verão.

Sem mais ver os olhos, aqueles olhos
que iluminam a alma:

O delírio de uma e outra paixão.

Pobre Elizabeth, morreu em vão.





terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Precisa-se de um Economista, Por Favor.


Perguntar não ofende.

Há pouco estava assistindo o Jornal Nacional e o Bonner estava passando as informações diárias sobre a economia, uma das informações foi sobre o pagamento de juros da divida externa, algo em torno dos R$129 Bilhões. Poxa vida, mais da metade do país assiste esse telejornal especificamente e recebe informações como essa todos os dias. Mas afinal, que dívida exatamente é essa? Não era o Lula que se gabava de ter pago ela? Para quem exatamente devemos? O que é feito com todo esse dinheiro recebido pelo credor? Sei lá, tem dias que você cansa de ver a mesma coisa e fingir que entende. Alguém por favor me explica em detalhes?


domingo, 29 de janeiro de 2012

Sinta-se grato à Expresso Rio Guaíba. Ou não.

Domingo, um belo dia de sol, e decidi ir com minha mãe e prima passear de Catamarã até Porto Alegre. Na volta, desembarco na estação hidroviária de Guaíba e recebo um mini jornal que alguém me entregou. Abro o mini jornal e dou de cara com a matéria "Expresso Rio Guaíba Cresce com a Cidade". O que eu poderia dizer? É óbvio que cresce com a cidade, e não poderia ser diferente, afinal, é a única empresa de transporte metropolitano a explorar atuar na cidade.

A empresa Expresso Rio Guaíba completou cinquenta anos de existência em outubro passado e para comemorar divulgou no jornal que participa até hoje em eventos culturais e artísticos do município - o que, vamos combinar, é o mínimo - e ela ainda informa que além dessas participações cede alguns ônibus às escolas para transporte de alunos carentes em dias especiais.

Só quem tem contato com as escolas municipais e estaduais do município sabe como não é tão simples assim conseguir os tais ônibus para transportar alunos carentes em eventos da cidade ou fora dela.

Algo que me chamou muito a atenção foi a ênfase dada pelo slogan no jornal que dizia "Passamos 365 dias só pensando em você".  Um Slogan abusivo, uma vez que os moradores e usuários do sistema de transporte metropolitano da cidade tem que passar 365 dias pagando passagens caras, sendo esmagados dentro dos ônibus lotados da empresa para que consigam trabalhar ou estudar.

A empresa anuncia, feliz, que em 2011 investiu cerca de 9 milhões na aquisição de novos ônibus. Isso em um jornal entregue para os turistas que chegam à cidade nos catamarãs - que de transporte metropolitano seletivo é bem seletivo, com o valor de R$7,00 nos finais de semana.

"Investiu 9 milhões" mas de forma alguma resolveu o problema das superlotações nos horários de pico. "investiu 9 milhões" porque cobra caro cada passagem, uma vez que em média um trabalhador gasta mais de R$200,00 por mês só para ir para a Capital Gaúcha, sem contar o gasto de transporte público interno.

Basta fazer as contas. A empresa diz transportar mais de 900 mil passageiros por mês. Multipliquemos o número de passageiros pela média do valor da passagem, que gira em torno de R$4,50 e pasmem: são R$4.050.000,00 por mês de lucro, o que ao ano chega em torno de R$48.600.000,00.  E então, nós moradores da cidade temos que ficar felizes pelos nove milhões investidos, e pensar "puxa, quanta generosidade"?

Isso tudo é um insulto à minha inteligência. Por mais que a empresa pague impostos e seus funcionários, nove milhões investidos representam apenas 18% da renda bruta. Onde estão os outros 82% da renda? Eu não sabia que motoristas e cobradores ganhavam tão bem.

Para ter noção do absurdo, apenas imagine que você tenha uma pizzaria. O seu negócio é vender pizzas, mas você investe apenas 18% do que ganha na compra das pizzas. Então você vai à público e declara como se fosse um gesto de bondade ter investido em um ano inteiro 18% de toda a sua renda nas pizzas, que é o seu negócio, que é o que lhe dá sustento. E eu tenho que me sentir alegre por isso? tenho que crer que os 82% tenham sido investidos na mão de obra. Você gastou mais de 350% a mais com a mão de obra do que com o produto em si?

Ou você é burro demais. Ou esperto. Se souber que na cidade inteira só há apenas uma pizzaria: a sua.

Realmente é uma pena que vivamos em uma cidade onde o direito à livre concorrência não existe, onde a máfia do transporte público se instaurou e está no poder há cinquenta anos. Vivemos em um lugar onde parece ainda existir um sistema coronelista. A liberdade parece ser a maior das mentiras do captalismo.

É uma lástima que depois de tanto tempo, sejamos todos ainda escravos, trabalhando para pagar o direito de ir trabalhar, felizes com a mediocridade, sem imaginar que poderíamos ser e ter muito mais.




quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Simples, Insaciável.

Imagem de Hieronymus Bosch

Sou pano de prato
Ora sou o escritor
Sou o que dorme e não quer acordar

Posso ser fatos
Ou os fatos compor
Bem ou mal, sou o que puder falar

Vagando pelas ansiedades
Sou vagão à procura
De novas estações pela velha cidade

Começo muitas vezes
Poucas vezes as termino
Sou o menino que enjoa fácil do que experimenta

E assim me crio, como cria solta pelo mundo
À espera da experiência utópica e perfeita
Que em mim saciará a sede, algum dia. Talvez.


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