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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Metamorfose I

Metamorfose de Narciso - Salvador Dalí

Ainda hoje costumo pensar naqueles dias, onde a coloração em sépia me aquecia de uma forma tão duradoura. Andei pensando até que ponto não sinto-me uma fraude perante os momentos marcantes que em mim redespertaram ainda há pouco.

Meu subconsciente sempre diz-me pra desconfiar de tamanha harmonia em meu ser. Sempre há um maremoto que nos remexe e sacode sem prévio aviso. Sem a menor piedade, destrói e bagunça toda aquela base "sólida" que pensávamos ser, desta vez, mais uma vez, resistente o suficiente para manter-nos em pé.

Por que há de haver tanta indecisão sobre quais caminhos tomar? Se perguntassem-me quando criança o que eu queria para minha vida, saberia eu, naquele tempo, responder sabiamente com facilidade. Hoje, no entanto, vejo-me a cada ano mais longe de meus ideais, e nem perto de saber para que ou onde devo seguir. Tão longe, talvez, que não mais saberia dizer quais foram os ideais que tive, ou os lugares que pensei que deveria estar.

É tudo muito maior, não saberia explicar a angústia que volta a assolar minha mente e espírito. São como algum reflexo de espelhos que minhas lembranças desconhecem, em meio a imagens em fast motions, seguidas de estranhos zumbidos.

Sinto-me nu. Exposto e desprotegido de minhas próximas ações descoordenadas. Um ser instável que borbulha freneticamente, passando de um estado aquoso e sereno a um líquido espesso, que de tão quente, queima ao tocar a pele.

Conheço-me e sei que sempre que isso ocorre, algo em mim morre, muda, e renasce. O problema não é o temor do que morre. O medo é do que muda e do que renasce. Temor de dormir e acordar, um dia, e não mais saber quem realmente sou. Ou pior. Não mais saber o que um dia realmente fui e sonhava em ser.


1 COMENTE AQUI:

Yuri Raskin Pospichil disse...

Sensação bem conhecida por meu ser. Impossível dizer que te entendo, mas compreendo. Toda mudança é diferente para seres diferentes, mas suas marcas acabam sendo parecidas, principalmente o medo que essas nos causam.
Temos consciência da necessidade de mudança, mas é sempre complicado lidar com as mortes que elas nos proporcionam. Como a água do rio, hoje não somos o mesmo de ontem, não seremos o mesmo de amanhã e nem sempre nos é possível decidir o que em nós deve morrer em nome da metamorfose.
Triste, natural, mas ainda assim triste.

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