Ideologia. Mas afinal, o que é? Talvez cada um tenha uma idéia mais ou menos clara sobre o que possa definir essa palavra. Para Raymond Williams o termo pode ser compreendido de três formas. Pensa ele que ideologia é primeiramente um sistema de crenças características de uma determinada classe. Quem sabe, não seria também, um sistema de crenças ilusórias? Ou simplesmente, de acordo com Williams, um processo geral de sentidos e idéias.
Existe ainda uma tal de ideologia burguesa (para o Marxismo). Talvez, apenas uma forma de explicar como as relações sociais são reproduzidas pelas pessoas, de maneira que, não envolvem a força ou a coerção. Porém, para Louis Althusser - um filósofo francês, marxista, afiliado ao partido comunista da França - e seus amigos (Lenin e Gramsci), a ideologia burguesa era aquela produzida pela sociedade de classes. Sendo sempre, por intermédio de uma classe dominante, o fornecimento de uma moldura conceitual geral para seus membros. Assim, se favorecia os interesses econômicos e políticos dessa mesma classe.
Althusser, mais tarde, chegou a fazer uma releitura baseada numa estrutura Marxista sobre o que viria a ser ideologia. Na sua concepção, era isso, um sistema de representação da relação imaginária dos indivíduos com as reais condições de sua existência. Ou seja, uma parte orgânica do todo social, algo secretado pelas sociedades humanas, assim como a atmosfera que é indispensável às suas vidas. A novidade da abordagem de Althusser, não era compreender a ideologia como uma forma de falsa consciência decorrida de perspectivas parciais, ou distorcidas por determinada classe, mas sim, entender ela, como um traço objetivo da ordem social capaz de estruturar a própria experiência.
Ainda em seguida, Louis Althusser vai dividir, baseando-se em Gramsci, a superestrutura dos aparelhos ideológicos em duas partes. A primeira (o aparelho repressivo de estado) incluía o governo, o exército os tribunais e as prisões. O segundo (o aparelho ideológico de estado) incluía a igreja, a escola, a família, os partidos políticos, o cinema, a televisão e outras instituições culturais. Sendo as primeiras, instituições repressoras e já as segundas, formadoras de valores morais.
Com relação à liberdade, Althusser o filósofo francês, acreditava que os “nascidos livres” eram na realidade, sujeitos culturalmente produzidos. Segundo ele o chamado “eu livre” era, e é até hoje, uma construção imaginária, cujas mudanças de estado de espírito e impulsos, ocultam, digamos assim, o peso silencioso da dominação social, pois, a liberdade é imaginária. Somos seres formados pelo meio e esse meio, formado por ideologias de classes dominantes. Sendo assim, o ser livre, ou que pensa ser, só se tornaria de fato um ser livre, quando alcançasse o posicionamento de classe dominante. A mesma classe que “decide” a ideologia dos demais.
Mas então, o que devemos concluir de ideologia? Seria ela uma invenção, uma ilusão? Ou como disse Althusser, um sistema de representação do imaginário dos indivíduos com as reais condições de sua existência? De fato, poderíamos dizer que um pouco de cada coisa. Não existe o certo ou o errado, correto? Mas, será que isso de não existir o certo ou o errado não é uma ideologia do autor deste texto? Minha ideologia diz que não existe o certo ou o errado e isso é baseado no que eu acredito, e , o que eu acredito está baseado sobre as minhas reais condições de existência. Poderíamos nós darmos nossa opinião afirmando o que de fato poderia ser ideologia, mas isso seria uma forma de pensar particular nossa. Contudo, podemos então, definir ideologia como um ato de pensar e crer, vinculado à nossas particularidades que estão, ou não, inconscientemente ligadas às condições reais em que vivemos.
Em suma, podemos defender a tese de que, tudo a nossa volta está vinculado a ideologias de alguém ou alguns. A linguagem do teatro, a política, o sistema de comunicação e inclusive o cinema, o que nos importa mais, obviamente. Afinal o tal dispositivo cinematográfico existe porque cineastas diversos foram incrementando o ato de filmar de acordo com o “é assim que se faz”. O que seria a ideologia dos cineastas em geral, que nas suas concepções e suas visões ideológicas diversificadas, definiram, pouco a pouco, com o passar de décadas, o jeito “certo” de filmar. Se estabelecendo, assim, as convenções narrativas de montagem, como plano-contra-plano, plano geral, closes etc. Cada um existe porque cineastas achavam que era com eles, usados em determinadas situações narrativas, que se contaria uma história ou se registraria um fato da melhor forma possível, para o espectador. É esse “achavam que”, que denuncia por de trás de tudo, que se pratica no mundo, um ser pensante que acredita em algo baseado em outro algo. Em resumo, um ser ideológico.
Sendo assim, o cinema, em especial, por “reproduzir” o mundo (que é cheio de ideais), é nada mais do que um dispositivo idealizado (por ser inventado, não só na forma narrativa como na forma técnica, para ser usado com determinadas intenções ideológicas) que, a partir de um filme, transmite ideologias de seu criador (o cineasta) sobre uma releitura de mundo observado pela ótica do próprio realizador audiovisual.
"Fica o questionamento: até que ponto nossas ideologias nos pertencem, ou de fato são nossas ideologias, e não de outros?"
Por Robson Rogers
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Nos pertencem a partir do momento em que existe apropriação.
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