Irreversível - Gaspar Noé |
Há não muito, assisti ao filme Irreversível de Gaspar Noé. Não quero aqui discutir o filme em si. Apenas o cito pois, no final, aparece uma mensagem que seria mais ou menos isso: O Tempo Destrói Tudo.
Honestamente não sei dizer se o Tempo destrói. Talvez destruir algo ou melhorar algo seja um ponto de vista particular demasiado para se afirmar assim, de uma forma tão generalizada. Mas, de certa forma: sim, o Tempo destrói tudo - nossa beleza, nossas forças, a sensibilidade, a identidade... Talvez o tempo estrague nosso dia, nossos ideais, nossos relacionamentos, enfim, nossas memórias, nossas células, nossa integridade.
Sempre costumo dizer que o tempo é uma ilusão e que não existe. Se ele não existe, não pode ser responsável por nenhuma ação. Logo, não seria o tempo que destrói, mas sim, os outros e nós mesmos que destruímos.
Envelheço e me parece cada dia mais difícil agregar boas coisas. Não que não seja possível, mas, a enxurrada de coisas desagradáveis que deve-se lidar acaba superando as boas. Não refiro-me as coisas materiais ou esse tipo de bem estar, mas sim de coisas mais emocionais e espirituais. A paz de se poder tomar um chimarrão no parque da redenção, conviver com pessoas que não estão interessadas na sua posição profissional ou social, mas na sua companhia.
Conforme o tempo vai passando, fica mais complicado saber quem deve permanecer na sua vida e saber exatamente quem você é. E de repente, sei lá, você se descobre um monstro capaz de coisas que sempre julgou errado. Até que ponto, o espaço e o "Tempo" podem acabar nos influenciando a fazer coisas que não gostaríamos? Quantas vezes não nos deixamos levar pela "onda", sem perceber?
Não posso afirmar, por não saber como eram as coisas cinquenta anos atrás. Se as pessoas eram, de fato, ou apenas fingiam ser íntegras. Nascemos tão puros, nos tornamos adultos que não gostaríamos e envelhecemos tentando nos redimir.
Perguntar sobre onde está o respeito próprio é um tanto piegas e já passou da hora de questionar quaisquer coisas sobre nós mesmos e a forma como temos feito esse mundo acontecer. O "Tempo", que não existe , é o que mais já nos foi dado. Já é passada a hora das perguntas. Se ainda não descobrimos nada, ou não praticamos nada do que estivemos aprendendo, então é porque o Tempo destruiu tudo mesmo, e nós é quem destruímos o tempo.
Por Robson Rogers
5 COMENTE AQUI:
Perfeita análise, até tuas dúvidas são as mesmas que as minhas.
Mas uma coisa sempre tive comigo, as pessoas à cinquenta anos atrás se diferenciavam bastante de nós, mas não em integridade. Talvez fossem mais passivos e menos egoístas, mas não por questão de caráter e sim de valores e mentalidades da época. O tempo, "que não existe", carrega consigo a missão de dar nome a nossas próprias mudanças.
Somos seres idiotas com uma necessidade de nominar a todas as coisas, até mesmo as que não podemos tocar com mãos físicas, damos nomes aos sentimentos e às sensações com o objetivo de serem bodes expiatórios de nossa própria ignorância.
"Tempo, Tudo, Nada, Tristeza, Felicidade, Deus...."
Simples palavras criadas por nós para nos livrar do peso de nossa própria irresponsabilidade, insegurança e ignorância.
Se o Tempo destrói tudo, realmente destruímos o tempo ao colocar-lhe um nome.
Somos naturais, fisicamente frágeis e tão passíveis ao ciclo de vida e morte quanto qualquer planta ou inseto.
A natureza se mantêm em harmonia pelo simples fato de que cada ser vivo se preocupa apenas consigo mesmo e com suas funções naturais. Experimente impedir um pássaro de voar e contemple sua morte apressar-se. Prive um artista de sua arte e contemple-o apodrecer em tristeza.
Tudo morre e tudo renasce, fotografamos, filmamos e em tempos mais remotos pintamos nas pedras o que gostaríamos de manter eterno. Mas cada foto, filme ou pintura desaparecerá, senão fisicamente, simbolicamente. Passando a não fazerem real sentido aos que nas próximas gerações os contemplarem.
Estamos fadados à destruição, mais cedo ou mais tarde. Cabe à nós fazer com que possamos viver e morrer sem frustração, e principalmente, ajudar a permitir que os próximos também tenham a chance de fazer o mesmo.
Primeiramente agradecer às belas palavras.
Segundamente, dizer-te: tu estás inspiradíssimo, hein?
Tua reflexão foi mais profunda do que a minha. Na verdade eu diria, que tu expressaste majestosamente aquilo que tentava eu expressar hj à tarde quando escrevi o texto.
Tocaste em pontos cruciais:
1 - A nossa ignorância perante aquilo que tentamos entender e desvendar.
2 - A harmonia da natureza estar na não interferência proposital.
3 - A falta de real sentido no futuro daquilo que hoje consideramos eterno.
De A a Z, teu texto cai como luvas em minhas mãos. Sem rasgação de seda, creio que me inspiraste a fazer um novo post, ou alguns mais. Aguardemos que meu cerebro consiga traduzir suas sinapses!!!
Se me inspiro é porque sou motivado por arte e filosofia bem feita como a tua!! ^^
E espero ansioso pela segunda parte dessa análise. Realmente o tema é rico, e tua inteligência permite explorá-lo muito bem.
Parabéns mais uma vez pelo talento, Rogers!
Não pare nunca de escrever!
puta que pariu... me desculpe o palavreado mais e tudo o que tenho a dizer, sem hipocrisia disse o que muitos queriam dizer, parabens pelo texto.
Não se preocupe João, não temos nenhuma censura a respeito de palavras impactantes, na verdade palavras impactantes são sempre bem vindas se agregarem algo ou causarem alguma ebulição de idéias.
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