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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Conselhos de Rilke VI


O que (pergunte a si mesmo) seria uma solidão sem grandeza?

Rilke
Roma 23 de dezembro de 1903
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Não sei se me encontro apto a responder o questionamento de Rilke. A solidão é um tema tão banalizado como o amor e a fé. Talvez, o que eu venha dizer não seja além de banal. Por outro lado, poderia então eu falar de grandeza?

Meus olhos costumam entender que grandeza é tudo aquilo que eles vêem e aparenta ser maior do que eles mesmos. Meus ouvidos entendem que grandeza é todo o som que não se ouve início e nem final. Para minha pele, grandeza é tudo o que não consegue alcançar por completo. Já, minha língua, sente o gosto da grandeza quando tudo aquilo que prova torna-se indecifrável. Minhas narinas aspiram a grandiosidade quando o que aspiram é maior do que a capacidade de meus pulmões aspirarem.

É o céu,
O silêncio,
A matéria.
É o nada
e o ar.

Talvez, Rilke tenha razão ao relacionar a solidão com a grandeza. Não que uma pessoa estar sob o céu azul, em silêncio, somente ela e nada além de sua respiração seja a figura perfeita que virá a exemplificar o sentido de encontrar-se a sós. Quem nunca esteve em lugares com muitas pessoas e sentiu-se só, que afirme o contrário dessa possibilidade.

Para estar solitário basta que não se veja nenhum ser onde existem centenas, que não se escute nenhum som quando tudo o que se escuta é o mesmo som. Basta fazer com que tudo signifique nada para você, e então estarás a sós em sua grandeza. Daí, talvez, o silêncio não seja a ausência do som, mas sim um som que há muito estamos acostumados a escutar em meio a outros ruídos.

Grandeza? Quem sabe, o momento que eu realmente a sinta seja naquele o qual pude expandir minha mente através dos céus. Quando senti o ar invadir meu ser e sentir-me afogado com sua abundância. Quando não pude escutar além de minha própria pulsação.

Querer a solidão não deve significar que se quer ficar longe dos nossos desafios, dos inimigos, ou recluso pelo medo de relacionar-se e arriscar ferir-se. Deve significar, apenas, que se quer estar em sua própria companhia.

Não há nada maior e mais belo em nossas vidas do que o que vem de dentro de nós. Nada poderia ser mais grandioso do que nossa própria vida, pois, ao deixarmos de existir, aquilo, que mais grandioso consideramos haver no universo, seria incapaz de resistir e existir, para nós, perante a nossa própria ausência.

"Se as colinas que vejo são grandiosas, são grandiosas porque assim as vejo".

"Se a solidão nos faz sentir-nos pequenos é porque olhamos para a grandiosidade de nosso exterior, esquecendo-nos de enxergar o infinito que habita em nós".




3 COMENTE AQUI:

Yuri Raskin Pospichil disse...

Me arrisco à dizer que são essas as tuas linhas mais belas e bem escritas até agora.
É a melhor definição de grandeza que já lí até hoje, e tudo escrito com essa narrativa calma e esclarecedora, que na minha opinião, é tua marca registrada.

Existe uma frase que não canso de dizer: "É um privilégio ser teu amigo."

Parabéns pelo Blog e continue nos surpreendendo com tanta beleza.

Grande abraço!

Unknown disse...

Lindas palavras.

Para mim, grande é tudo aquilo que inebria, que excede, que transborda, para unicamente e por fim, transcender. Como a solidão, que não é nada mais que o caminho que nos leva ao maior dos encontros: o de nós mesmos.

Te amo!

Alluc disse...

Este é um escrito que vale ouro, não pelo preço, mas por ser precioso!

Uma definição clara do que é grandioso que mostra, que o importante é buscar essa grandiosidade em nosso cosmo interior, que é infinito!

Parabéns! `^^´
Abraços do Elfo!

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