A pele era suave como a brisa e o vento. Sobrevoava a mata noturna e serena. Não buscava a dor, nem o sofrimento. Amava a vida, a terra, os animais e seus entes.
Branca como a neve.
Braços e dedos delicados.
Vivia em um universo mágico como contos. Era ela a minha melhor parte, sem a qual não saberia viver. Vestia-se em mantos cetim marfim.
Não mais um pesar,
mas um exalar de perfumes únicos.
E em silencio passava despercebida até seu alvo: A rosa mais delicada que já existira e vira.
Com seus dedos longos tocava-a com carícias, e à ponta do nariz a erguia, apreciando seu doce aroma pêssego.
Respirou fundo uma...
Duas...
Três...
Com os olhos elevados aos céus exalou seu último ínfimo ar.
A rosa que caíra de suas mãos, ao chegar ao chão, não se espatifara.
Repousava, suave e serena, ao lado de seu corpo gélido e esbranquiçado.
Um corpo que perdera a vida, mas cujo encantamento jamais apagara-se.
Naquela noite - noite serena -, corujas piavam em seu louvor. Pássaros repousavam sobre seus mantos, enquanto grilos guizalhavam em sentimentos.
A noite, antes branda, tornara-se negra para que as estrelas pudessem brilhar mais, e, assim, lá no céu - o universo onde os deuses habitam - brilhara uma estrela que, majestosa, era a mais bela dentre todas as outras...
Ainda hoje, quando olho para os céus, em noites turvas, lembro-me que lá habita a melhor parte de mim. A parte que reencontrarei quando para meu verdadeiro lar retornar. Lá reside a verdade, a inocência, a esperança e a paz.
"Quando olho para as estrelas, percebo o quão pequeno sou perante a inegável prova da existência divina. Felicito-me e orgulho-me de fazer parte de algo muito maior que nossas ganâncias e sentimentos mesquinhos. Orgulho de sentir-me, ainda que pequeno, muito maior e vivo perante os olhos do universo do que aos olhos humanos. Quem dera todos pudessem ver assim..."
Por Robson Rogers
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"Quem dera todos pudessem ver assim..."
Lindo e suave como a noite calma com corujas piando e uma rede de estrelas para nos encantar!
Parabéns!
"Quando olho para as estrelas, percebo o quão pequeno sou perante a inegável prova da existência divina."
Houve um tempo em que rechassei a existência de deus ou qualquer força criadora. Porém hoje entendo que o que me incomodava não era o fato de existir uma força divina e sim a forma como essa força era falsamente canalisada na imagem de um homem de barbas brancas por religiões manipuladoras que com o passar dos séculos criaram uma humanidade débil e dependente.
Mas o texto nada tem a ver com isso, é sobre essa leveza, sobre o desprender-se do próprio corpo, sobre o "ser" humano, simples, natural....vida e morte como devem ser, lindas e puras. Cercadas de saudade e compreensão, cheias de magia e simbolismo.
Realmente. é sobre isso, você como sempre capta bem o cerne da coisa. Por isso é um ótimo escritor e com certeza será um ótimo jornalista.
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