É realmente interessante nossa vida. O decorrer dela. As defesas ideológicas que fazemos. Os sentidos e rumos que tomamos. Ou, até mesmo, aqueles que não optamos, mas mesmo assim, de enxeridos, nos apareceram.
Nascemos nus. Completamente nus! Mal temos cabelo, mal temos corpo, mal temos cor. Nascemos com nada e, aos poucos, vamos ganhando o mundo. Desde nossos primeiros segundos de chegada nós ganhamos coisas. Ganhamos nossos primeiros metros cúbicos de oxigênio, inalados por nossas narinas, que vão circular por nossos pulmões, e serão, no segundo seguinte, perdidos através de nossa expiração. Ganhamos e, a partir desse momento, já começamos a perder também - o ar, e os segundos.
Mas, a verdade é que iremos ganhar muito - muito mesmo - nos próximos anos de nossa existência, depois de nascermos. Ganharemos muito mais do que iremos perder, na verdade. Nasceremos e ganharemos pais, avós, tios... Alguns até mesmo irmãos. Ganharemos nossas primeiras roupas. Aquelas que encobrirão futuramente nossas vergonhas - o nosso corpo, que também ganhamos ao nascer.
E o mais interessante é que, quando morrermos, tudo aquilo que ganhamos nos será tirado. Alguns irão perder ao longo do percurso. Outros, terão a sorte ou o azar - não sei - de perderem tudo só no último instante. Nascemos nus. Partiremos nus... Ainda que de terno e gravata - e não me perguntem porque esta é a melhor forma de partir.
Alguns defendem que durante todo esse caminho - que para os novos parece ser gigantesco, mas para os mais velhos, parecerá bem mais curto do que pensavam ser - encontraremos a felicidade somente dentro de nós. Já, porém, outros, defenderão que a felicidade poderá ser encontrada fora de nós, junto aos outros. Uns buscarão por completude. Outros por momentos, uma vida confortável, ou afeto apenas... E não importa quais crenças teremos, ou o que iremos nos propor a buscar - se será válido ou não - se nossos valores realmente foram os mais corretos para nossa época. Não importa. Ainda assim, chegaremos sozinhos e partiremos também assim.
Quando meu avô morreu, dias antes de partir, ele pediu perdão à minha mãe. E ela não entendeu, mas de qualquer forma, ela disse que - seja lá pelo o quê ele buscava o perdão - ele estava perdoado. Então, ele falou para ela só não esquecer de uma coisa. E a coisa era:
- A vida é uma ilusão, uma grande ilusão!
Penso que entendo o que ele quis dizer. Não que a vida fosse ruim, como um sonho que não se realizaria nem no "final". Mas sim, que, todas nossas crenças e hábitos não passam de uma alucinação coletiva de nossas mentes. E a prova é que as coisas são reais para aqueles que acreditam no que querem que seja real. Mas a realidade básica é essa: nascemos nus e morreremos assim. Todo o resto, entre o início e o final, o chamado "recheio", são apenas boas e más lembranças do que vivemos e cultivamos enquanto nos foi dada a oportunidade.
(O que andas a cultivar para teu recheio?)
Algumas pessoas, ao se tocarem disso, viverão intenssamente seus momentos, e acho que isso não será o suficiente para preencher o meio. Pressa e rapidez em querer viver só acelerará mais a vida. Outras pessoas que se derem conta do que realmente "conta" - e o que conta de verdade é subjetivo - se apressarão em exercer o desapego. Abrindo mão de bens e, inclusive, de pessoas. Afinal, viver sozinho talvez seja o melhor caminho para aquele que nasceu assim e sabe que morrerá assim. Afinal, tudo que nos dão, um dia, mais cedo ou mais tarde, nos tiram. As coisas perecem e as pessoas partem. Certo?... Errado! - pelo menos ao meu modo de ver.
Nascemos sozinhos, receberemos do mundo uma infinidade de coisas, momentos e pessoas. E sim, "perderemos" tudo pouco a pouco - e alguns até mesmo as lembranças -. Mas, não, de forma alguma, isso significa que devamos nos adiantar e vivermos sem nada, na solidão. Ganhamos o mundo. Ganhamos as pessoas e os lugares. Tudo é nosso e está aqui para usufruirmos com respeito. Se cuidarmos, ficará conosco até o final da jornada. Como sempre digo, a vida é o presente que você ganha. É como receber o prêmio de seis munitos no paraíso. Você pode estar sentado observando os outros, pode estar destruindo o seu céu, estar se divertindo, ou, até mesmo, temendo-o. Mas pode estar compartilhando o prêmio se quiser, interagindo com ele e os outros premiados.
Exercer o equilíbrio é fundamental, embora, nao sejamos obrigados a saber exercê-lo de cara. Enquanto alguns têm que aprender a serem mais sozinhos e menos dependentes, outros, tem que aprender a interagir com o grupo e confiar na capacidade alheia. E sim, teremos que devolver tudo no final de nosso intervalo de tempo. Mas não nos apressemos, nem penssemos nisso. Devolver tudo de bom que tenhamos recebido será apenas nossa última provação. Aquela que nos prova que não somos egoístas, mas, altruístas, o suficiente, para deixarmos mais premiados usufruirem do paraíso. É tudo um grande jogo de equipe. Percebamos isso ou estaremos não só nos prejudicando, mas também, aos outros jogadores.
"Não me firas porque te feres" - Pablo Neruda
E aqueles que esperam encontrar a paz de espírito e tranquilidade na morte, eu deixo um recado: É muito fácil e cômodo querer ir para um lugar bonito e tranquilo, que nos preencha e nos dê o descanço "merecido", sem que tenhamos que nos esforçar para construirmos o mesmo. É reconfortante mudar-se e, ao entrar na casa nova, encontrá-la pronta para nós sem que tenhamos desempacotado um só pacote. Mas, já deveríamos ter percebido que não obtemos nada duradouro se não com nosso próprio esforço.
Nascemos nus. Mas tudo o que realmente ganhamos foram as ferramentas, pois o demais, se parar para pensar, verás que - diretamente, indiretamente, conscientemente ou inconscientemente - conquistastes com tuas próprias mãos através de tua própria vontade.
Olhe bem a semente do que plantas, antes de surpreender-te com o fruto que colherás.
O mais gostoso sempre é o recheio!
Nascemos nus. Completamente nus! Mal temos cabelo, mal temos corpo, mal temos cor. Nascemos com nada e, aos poucos, vamos ganhando o mundo. Desde nossos primeiros segundos de chegada nós ganhamos coisas. Ganhamos nossos primeiros metros cúbicos de oxigênio, inalados por nossas narinas, que vão circular por nossos pulmões, e serão, no segundo seguinte, perdidos através de nossa expiração. Ganhamos e, a partir desse momento, já começamos a perder também - o ar, e os segundos.
Mas, a verdade é que iremos ganhar muito - muito mesmo - nos próximos anos de nossa existência, depois de nascermos. Ganharemos muito mais do que iremos perder, na verdade. Nasceremos e ganharemos pais, avós, tios... Alguns até mesmo irmãos. Ganharemos nossas primeiras roupas. Aquelas que encobrirão futuramente nossas vergonhas - o nosso corpo, que também ganhamos ao nascer.
E o mais interessante é que, quando morrermos, tudo aquilo que ganhamos nos será tirado. Alguns irão perder ao longo do percurso. Outros, terão a sorte ou o azar - não sei - de perderem tudo só no último instante. Nascemos nus. Partiremos nus... Ainda que de terno e gravata - e não me perguntem porque esta é a melhor forma de partir.
Alguns defendem que durante todo esse caminho - que para os novos parece ser gigantesco, mas para os mais velhos, parecerá bem mais curto do que pensavam ser - encontraremos a felicidade somente dentro de nós. Já, porém, outros, defenderão que a felicidade poderá ser encontrada fora de nós, junto aos outros. Uns buscarão por completude. Outros por momentos, uma vida confortável, ou afeto apenas... E não importa quais crenças teremos, ou o que iremos nos propor a buscar - se será válido ou não - se nossos valores realmente foram os mais corretos para nossa época. Não importa. Ainda assim, chegaremos sozinhos e partiremos também assim.
Quando meu avô morreu, dias antes de partir, ele pediu perdão à minha mãe. E ela não entendeu, mas de qualquer forma, ela disse que - seja lá pelo o quê ele buscava o perdão - ele estava perdoado. Então, ele falou para ela só não esquecer de uma coisa. E a coisa era:
- A vida é uma ilusão, uma grande ilusão!
Penso que entendo o que ele quis dizer. Não que a vida fosse ruim, como um sonho que não se realizaria nem no "final". Mas sim, que, todas nossas crenças e hábitos não passam de uma alucinação coletiva de nossas mentes. E a prova é que as coisas são reais para aqueles que acreditam no que querem que seja real. Mas a realidade básica é essa: nascemos nus e morreremos assim. Todo o resto, entre o início e o final, o chamado "recheio", são apenas boas e más lembranças do que vivemos e cultivamos enquanto nos foi dada a oportunidade.
(O que andas a cultivar para teu recheio?)
Algumas pessoas, ao se tocarem disso, viverão intenssamente seus momentos, e acho que isso não será o suficiente para preencher o meio. Pressa e rapidez em querer viver só acelerará mais a vida. Outras pessoas que se derem conta do que realmente "conta" - e o que conta de verdade é subjetivo - se apressarão em exercer o desapego. Abrindo mão de bens e, inclusive, de pessoas. Afinal, viver sozinho talvez seja o melhor caminho para aquele que nasceu assim e sabe que morrerá assim. Afinal, tudo que nos dão, um dia, mais cedo ou mais tarde, nos tiram. As coisas perecem e as pessoas partem. Certo?... Errado! - pelo menos ao meu modo de ver.
Nascemos sozinhos, receberemos do mundo uma infinidade de coisas, momentos e pessoas. E sim, "perderemos" tudo pouco a pouco - e alguns até mesmo as lembranças -. Mas, não, de forma alguma, isso significa que devamos nos adiantar e vivermos sem nada, na solidão. Ganhamos o mundo. Ganhamos as pessoas e os lugares. Tudo é nosso e está aqui para usufruirmos com respeito. Se cuidarmos, ficará conosco até o final da jornada. Como sempre digo, a vida é o presente que você ganha. É como receber o prêmio de seis munitos no paraíso. Você pode estar sentado observando os outros, pode estar destruindo o seu céu, estar se divertindo, ou, até mesmo, temendo-o. Mas pode estar compartilhando o prêmio se quiser, interagindo com ele e os outros premiados.
Exercer o equilíbrio é fundamental, embora, nao sejamos obrigados a saber exercê-lo de cara. Enquanto alguns têm que aprender a serem mais sozinhos e menos dependentes, outros, tem que aprender a interagir com o grupo e confiar na capacidade alheia. E sim, teremos que devolver tudo no final de nosso intervalo de tempo. Mas não nos apressemos, nem penssemos nisso. Devolver tudo de bom que tenhamos recebido será apenas nossa última provação. Aquela que nos prova que não somos egoístas, mas, altruístas, o suficiente, para deixarmos mais premiados usufruirem do paraíso. É tudo um grande jogo de equipe. Percebamos isso ou estaremos não só nos prejudicando, mas também, aos outros jogadores.
"Não me firas porque te feres" - Pablo Neruda
E aqueles que esperam encontrar a paz de espírito e tranquilidade na morte, eu deixo um recado: É muito fácil e cômodo querer ir para um lugar bonito e tranquilo, que nos preencha e nos dê o descanço "merecido", sem que tenhamos que nos esforçar para construirmos o mesmo. É reconfortante mudar-se e, ao entrar na casa nova, encontrá-la pronta para nós sem que tenhamos desempacotado um só pacote. Mas, já deveríamos ter percebido que não obtemos nada duradouro se não com nosso próprio esforço.
Nascemos nus. Mas tudo o que realmente ganhamos foram as ferramentas, pois o demais, se parar para pensar, verás que - diretamente, indiretamente, conscientemente ou inconscientemente - conquistastes com tuas próprias mãos através de tua própria vontade.
Olhe bem a semente do que plantas, antes de surpreender-te com o fruto que colherás.
O mais gostoso sempre é o recheio!
4 COMENTE AQUI:
Nascemos nus e somos bonitinhos, ninguém nos condena por isso... pq ainda estamos próx do plano espiritual, pq ainda estamos com a mente limpa e pq estamos puros.
Morremos nus. E todos param, refletem, filosofam, e choram... E acham isso bonito pq isso os aproxima do plano espiritual... de quem está chegando e de quem está indo.
E nesse meio tempo entre a vida e a morte nós "morremos" e "vivemos" sempre quando nos damos conta disso. Que mesmo q tenhamos uma roupa em cima do corpo, ainda assim estamos nus.
A roupa não está anexada ao corpo, só está por cima dele, não está nele. E sempre q notamos isso "renascemos"... e nos damos de cara com o plano espiritual novamente.
Estamos nessa constante renascença. Pq estamos num mundo material que exige a materialidade pro corpo sobreviver. Não viver. Mas sobreviver para poder viver (e não viver para sobreviver)... Mas o materialismo é tão concreto e tão real que acaba batendo em nossa cabeça... e DÓI! E decidimos viver só de materialismo, correndo pra lá e pra cá, contando os ponteiros do relógio, calculando uma ilusão... Mas o olhar de uma criança pura e a morte de um ser sempre faz com que olhemos para além disso, e vemos que "valores" não VALEM nada, e só são regras aqui.
Mas enquanto estivermos num corpo ainda precisaremos de certos valores. Mesmo sabendo q eles não valem nada para quem está tão próx ao espiritual...
E talvez seja por isso que a vida seja uma ilusão.
Hum...Com certeza o mais gostoso é o recheio. Um belo resumo das questões principais da existência humana. Não sei pra onde vamos, nem de onde viemos. Mal sei onde estou agora. Mas isso é tudo o que importa.
De onde viemos? O que importa? Acontece que viemos (ou pensamos ter vindo). O que importa é que estamos aqui. E é com o aqui que devemos nos preocupar.
Pra onde vamos?
Mundo espirutial? De baixo da terra? Cosmos? Paraíso? Além? Lugar algum?
Acho que pouco importa.
Por que agir agora baseando-se em onde se estará amanhã é viver baseado em algo que ainda nem nos pertence.
Um dia de cada vez. Pode-se viver esperando o melhor para o amanhã, desde que se viva e se faça o melhor hoje.
Vamos cuidar do recehio, é pra isso que estamos aqui...
Que quando nosso bolo estiver pronto, não tenha apenas um belo acabamento externo, mas tenha um conteúdo de lamber os dedos.
=)
Muito bom esse texto Robson! Muito bom mesmo.
Quer dizer que a vida seria mais ou menos uma bolachinha com recheio meio a meio? hehehe... Brincadeira.
Concordo contigo em todos os termos que o texto aborda, por isso não vou ficar escrevendo o que já está escrito.
Parabéns pelo talento!
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