Estou me sentindo tão inútil. O que há comigo? Onde fui me perder assim?
Os rumos certos não existem mais. Estou sentado sobre uma pedra absorvendo um calor de quarenta graus celcius. É uma campina verde alaranjada cujo mato torna-se murcho pelo calor excessivo do sol. Gotas de suor estão brotando como cascatas de meus poros. Observo, ofegante, tudo ao redor. Mal consigo respirar. Há apenas a campina. E o sol.
Que sol infernal!
Nenhum vento, nenhuma brisa, nenhum ruído. Nada de pássaros ou animais.
Estou na beira da estrada de chão cujo mato tenta se apossar. Levanto-me de sobre a pedra e dou dois passos à frente. Posso ver uma bifurcação. E dessa, posso ver mais duas bifurcações. Para onde leva cada um desses caminhos?
Silêncio. Meu cérebro frita. Meus olhos pesados ardem. Minha pele queima.
"Fique onde está" sussurra uma voz estranha em meus ouvidos. Olho ao redor de mim mesmo procurando a pessoa que falara. Estou sozinho.
De repente, um sapo sai saltitante do meio do mato, também suado, olhos arregalados e fazendo movimentos rapidamente repetitivos no seu papo. Me faltam palavras para descrever isso. ...Mas, o sapo destila como eu. Cachoeiras de suor jorram de sua pele verde musgo acinzentada. Atônito, dá dois saltinhos até o meio da estrada de terra, e morre ali.
Desaparece.
O que quer dizer? Não sei. Pergunte à minha imaginação (frustrada por estar vazia e escassa).
Estou prestes a desmaiar. Minha boca está cheia de terra. Seca e árida. Não há saliva. Só o pó. O pó que vem da estrada.
"Dance", me fala delicadamente a mesma voz de antes. Então começo a girar. Duas voltas e caio alí, onde estivera o sapo. Só os raios do sol a me ofuscar a visão. Adormeço na falta de forças para me levantar.
"Tic-Tac" Sussurra a voz novamente. Agora irônica e debochada.
Acordo no meio da noite, no mesmo lugar onde adormecera. Agora não faz mais calor e ainda estou olhando para o céu. Onde antes o sol esfaqueava meu rosto com seus raios, agora vejo um céu estrelado em seu lugar. E... escuto grilos ao fundo, fazendo seus barulhinhos habituais. Uma brisa fresca invade a campina azulada pela luz da noite. A noite azul com multi pontos brilhantes no céu. Ainda estou sozinho, exceto pelos grilos. Minha face arde com o bater da brisa, por conta das queimaduras do sol.
"Psiu" faz a voz. E os grilos param de cantar.
Silêncio. Só escuto minha respiração. E o coração a bombear, lentamente.
Os caminhos ainda estão ali, me esperando com suas bifurcações. Nenhum deles parece querer me levar onde quero ir. Nenhum parece querer me mostrar o que quero ver. Aliás. Todos parecem querer me mostrar a mesma coisa. Que truque! Sentir o remorso por seguir um ao lembrar-me que poderia ter seguido aos outros, sendo que querem me levar para o mesmo fim: A descrença.
A vontade de soltar uma gargalhada sobre a ironia é muito grande. Mal posso segurar o riso por tamanha crueldade, assim como, mal posso prender as lágrimas, pela agonia.
Queria mesmo era ficar nessa campina. Pois sei bem que quando voltar de uma das duas bifurcações será desacreditado e completamente vazio.
"Isso chama-se crescer!" Ri de mim a maldita voz.
Eu sei que não há nada naquelas direções. Mas a curiosidade me leva até elas com a esperança de encontrar algo que realmente valha a pena. Mas não importa. Só vou voltar com a certeza de que tudo está deserto pra lá.
E Seco!
...Queria mesmo era seguir no caminho da estrada de chão. Seguir pelo lado contrário, onde não há bifurcações. Só uma estrada reta ao infinito. Mas não adianta. Lá também já fora tudo destruído.
Ah! Agora eu saquei: Estão tentando me pegar. Estão tentando me convencer. Me confundir... me fazer desistir!
"Agora vai" Diz a voz, em tom de comando.
Já não sei se estou em pé, deitado, ou de qualquer forma no chão. ...Mas, levanto-me (de onde quer que esteja). Ao meu lado o sapo. Recomposto, apesar dos olhos ainda arregalados. Não sou eu quem dá o primeiro passo (seja lá em que direção), é o sapo quem dá um pulo à frente, liderando-me. E, atrás dele, dou meu primeiro passo, ainda sem saber para onde. Afinal, se não faz diferença, me parece mais justo seguir o único ser que ainda vive alí, além de mim. O único que é constituído da mesma energia que me move: Vida. O único que parece preservar um pouco de seu instinto natural.
O Sapo dá mais dois saltinhos, e eu, mais dois passinhos...
Por: Robson Rogers
3 COMENTE AQUI:
"...Os caminhos ainda estão ali, me esperando com suas bifurcações. Nenhum deles parece querer me levar onde quero ir. Nenhum parece querer me mostrar o que quero ver..."
"Isso chama-se crescer!" Ri de mim a maldita voz..."
Crescer dói, mas é tão triste voltar no caminho e ver tudo destruído...o que fazer então??
Não sei, realmente não sei!!
Belo texto..parabéns Robson!!
Nem eu Yuri, nem eu sei o que fazer. Apenas tenho medo de crescer na descrença. Que doa crescer. A dor é o de menos. O que temo é o resultado do crescimento. E dele não há como fugir. Mais cedo ou mais tarde a gente tem que enfrentar as mutações do nosso espírito.
Também não sei... =/
Crescer doi mesmo ... mas podemos aprender a viver crescido e sempre criancas !!!
Vc escreve bem =D
Postar um comentário