Os Gritos

Já é tarde... Ok! Não é, mas a sensação é de ser. Todos dormem mas eu ainda não. O peito aperta cada vez mais. Grita por algo que vivi e não poderei ver viver jamais. Grita por alguém que não vi.

Já pensei em chamar um amigo, mas todos estão distantes desse momento. É como se estivesse em uma ilha deserta.

A noite fria onde posso apenas ver estrelas, mas não tocá-las.

Será que elas podem me ver?

Será que cheguei aonde mais temia?

Ou será apenas mais uma crise?

Dói. Nada posso fazer a não ser esperar, é claro. E esperar... Esperar passar a saudade, a nostalgia.

É como ter mil anos. Sinto-me só e desprotegido, com muitas coisas a se esquecer. Sinto o vazio no lugar onde algo já esteve presente. Há falta de tudo e de todos. Falta até mesmo do que desconheço...

É a dor de todas as lembranças que não lembro... E as que lembro.

No rádio escuto silenciosamente "More Than Words" enquanto lágrimas me tocam no peito.

Odeio a noite. Me parece que tudo acalma, se silencia. É quando o barulho do dia-a-dia pára que posso ouvir meus gritos. Gritos que ecoam na mente e expremem meu ser. Daí não há como ignorar, nem fingir.

Nada será como antes.

Nada nunca é como antes.

Queria que fosse, mas não será.

E por mais que escreva com a esperança de com isso obter um milagre, no fundo, eu sei: É apenas mais uma confissão dolorosa à um papel, que não irá me escutar.

Tento chorar mas não é possível. Lágrimas lacradas não podem cair. Tornam o ar escasso. A falta que anuncia um fim... O fim que não passa, que parece se aproximar, ainda que eu saiba que não irá. Tudo ilusão.

E enquanto escrevo, alguns sintomas somem. Escrever é como tomar um analgésico para dor de cabeça. Nos tira os sintomas mas não a moléstia.

Já não há o que fazer aqui. Devo apagar as luzes e dormir. Quando dormimos, não sentimos. A dor vai embora e a falta de ar não existe. Desvanecemos em paz selestial. É sublime.

Amanhã, quando o sol raiar, o dia fará bastante barulho.

Barulho, este, que espero, seja suficiente para me fazer esquecer.

Dos gritos.

Por Robson Rogers