Eu não sabia seu nome, nem sua idade. Ele era de estatura média, cabelos negros e pele muito clara. Seus olhos, duas bolotas negras e brilhantes. Seu nariz, esculpido em curvas suaves. Toc, toc, toc.! Alguém bate à porta... Toc, toc, toc! Alguém por favor atenda a porta! Foi assim que o conheci.
Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, de cabeça baixa a criança adentrava o hall. Sem me olhar nos olhos, pediu suavemente que a deixasse verificar algumas partes da casa. Oras! Como assim! Oras, oras... Por favor me pedia o menino, ainda sem me encarar. Ele realmente necessitava muito disso e eu não fazia ideia o que queria. Nem sei ao certo o porquê, mas deixei que a criança fizesse, seja lá o que for, que queria fazer.
Primeiro ela correu para para sala. Lá o menino sentou no sofá, olhou para o teto. O forro da casa estava mofado e meio envergado para baixo. Pensei em perguntar o porque daquele olhar. Mas quando abri a boca o garoto virou-se rapidamente para estante. Ela era alta, de madeira, bela e pesada. A criança levantou-se do sofá e foi até seu encontro. Passou a mão de leve como se fosse tirar a poeira. Observou o dedo e, depois, olhou atentamente para cada objeto que havia em cima da estante. As taças de prata, o castiçal de ferro, o pote de cristal fino e alguns livros. Foi um momento muito intenso. A forma que o garoto olhava para os objetos dava a entender que ele já os conhecia. Era como se visse algo a mais naquele móvel. Algo que eu não podia ver, só ele!
Saiu pelo corredor e por uma pequena escada foi parar próximo aos quartos do porão da casa. Entrou em um quarto e deitou-se na cama, depois levantou-se olhando para o roupeiro. Assim como a estante, o roupeiro também era de madeira fina e muito bonito. O menino abriu as portas, observou algumas roupas. Podia se ver desapontamento em sua face. Era como se ele esperasse encontrar outras roupas naquele lugar. Antes de sair, mais uma vez olhou para cama. Foi então que eu resolvi perguntar o que ele buscava. Ele apenas me encarou, e, olhando bem dentro dos olhos, disse que o que buscava já sabia que não encontraria mais. Antes que eu pudesse pedir uma explicação mais profunda ele disse com sua voz doce e suave:
- Resta apenas mais um lugar o qual eu necessito ver!
Eu estava espantado. Mas só deu tempo de segui-lo enquanto descia mais um lance de escadas. Quando o encontrei, ele estava parado na porta da dispensa. Era uma dispensa bem pequena. Um antigo banheiro da área de serviços que havia sido reformado pelos antigos moradores e transformado em dispensa. A criança entrou no pequeno lugar e escalou as prateleiras até chegar no topo. Fiquei apreensivo pois tinha medo que ele despencasse do alto. Mesmo assim, percebi que ele sabia o que estava fazendo. Atrás de uma televisão antiga, cor de laranja, o garotinho tirou um velho bloquinho de notas. Ele desceu sozinho das prateleiras e, quando chegou ao chão, folheou o bloquinho de notas por inteiro enquanto algumas poucas lágrimas rolavam de seus olhos. Perguntei se eu poderia ver o bloquinho. Ele me estendeu a mão e eu folheei também. Eram apenas páginas com números anotados. Nada além de números. Devolvi para o menino o pequeno bloco, que nem eu mesmo sabia da existir. O garoto subiu as prateleiras e o colocou de volta no lugar de onde tirara. Desceu e abraçou minha cintura. Olhou para mim e pediu para que eu cuidasse bem da casa.
Antes de ir embora o menino encostou por completo seu corpo na parede, como se estivesse abraçando-a. Dava a impressão de que ela podia fazê-lo viajar por um momento raro de sua vida. Antes de sair porta afora, perguntei ao menino o porque de tudo isso. Ele, então, antes de partir, como suas últimas palavras disse:
- Quando a toco, quando perambulo entre essas paredes, lembro-me de minha infância. Lembro-me de toda uma vida que pensava não existir mais. É como se pudesse voltar no tempo e reaver tudo aquilo que um dia tive mas não imaginava um dia poder esquecer ou perder. Não há nada mais triste do que esquecer quem realmente somos ou de onde realmente viemos. É em nossas origens que reside nossa base, nosso cerne. Não haverá futuro sem passado e não há passado sem um futuro. Cada vez que olhar para essas paredes, esses móveis, lembre-se que em cada tijolo desses reside seus piores e melhores momentos. Amanhã você não estará aqui para ver e ouvir, mas essas paredes estarão para contar, a quem estiver disposto a ouvir, todas as suas lembranças e emoções. Você se vai, mas as paredes, jamais...
Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, de cabeça baixa a criança adentrava o hall. Sem me olhar nos olhos, pediu suavemente que a deixasse verificar algumas partes da casa. Oras! Como assim! Oras, oras... Por favor me pedia o menino, ainda sem me encarar. Ele realmente necessitava muito disso e eu não fazia ideia o que queria. Nem sei ao certo o porquê, mas deixei que a criança fizesse, seja lá o que for, que queria fazer.
Primeiro ela correu para para sala. Lá o menino sentou no sofá, olhou para o teto. O forro da casa estava mofado e meio envergado para baixo. Pensei em perguntar o porque daquele olhar. Mas quando abri a boca o garoto virou-se rapidamente para estante. Ela era alta, de madeira, bela e pesada. A criança levantou-se do sofá e foi até seu encontro. Passou a mão de leve como se fosse tirar a poeira. Observou o dedo e, depois, olhou atentamente para cada objeto que havia em cima da estante. As taças de prata, o castiçal de ferro, o pote de cristal fino e alguns livros. Foi um momento muito intenso. A forma que o garoto olhava para os objetos dava a entender que ele já os conhecia. Era como se visse algo a mais naquele móvel. Algo que eu não podia ver, só ele!
Saiu pelo corredor e por uma pequena escada foi parar próximo aos quartos do porão da casa. Entrou em um quarto e deitou-se na cama, depois levantou-se olhando para o roupeiro. Assim como a estante, o roupeiro também era de madeira fina e muito bonito. O menino abriu as portas, observou algumas roupas. Podia se ver desapontamento em sua face. Era como se ele esperasse encontrar outras roupas naquele lugar. Antes de sair, mais uma vez olhou para cama. Foi então que eu resolvi perguntar o que ele buscava. Ele apenas me encarou, e, olhando bem dentro dos olhos, disse que o que buscava já sabia que não encontraria mais. Antes que eu pudesse pedir uma explicação mais profunda ele disse com sua voz doce e suave:
- Resta apenas mais um lugar o qual eu necessito ver!
Eu estava espantado. Mas só deu tempo de segui-lo enquanto descia mais um lance de escadas. Quando o encontrei, ele estava parado na porta da dispensa. Era uma dispensa bem pequena. Um antigo banheiro da área de serviços que havia sido reformado pelos antigos moradores e transformado em dispensa. A criança entrou no pequeno lugar e escalou as prateleiras até chegar no topo. Fiquei apreensivo pois tinha medo que ele despencasse do alto. Mesmo assim, percebi que ele sabia o que estava fazendo. Atrás de uma televisão antiga, cor de laranja, o garotinho tirou um velho bloquinho de notas. Ele desceu sozinho das prateleiras e, quando chegou ao chão, folheou o bloquinho de notas por inteiro enquanto algumas poucas lágrimas rolavam de seus olhos. Perguntei se eu poderia ver o bloquinho. Ele me estendeu a mão e eu folheei também. Eram apenas páginas com números anotados. Nada além de números. Devolvi para o menino o pequeno bloco, que nem eu mesmo sabia da existir. O garoto subiu as prateleiras e o colocou de volta no lugar de onde tirara. Desceu e abraçou minha cintura. Olhou para mim e pediu para que eu cuidasse bem da casa.
Antes de ir embora o menino encostou por completo seu corpo na parede, como se estivesse abraçando-a. Dava a impressão de que ela podia fazê-lo viajar por um momento raro de sua vida. Antes de sair porta afora, perguntei ao menino o porque de tudo isso. Ele, então, antes de partir, como suas últimas palavras disse:
- Quando a toco, quando perambulo entre essas paredes, lembro-me de minha infância. Lembro-me de toda uma vida que pensava não existir mais. É como se pudesse voltar no tempo e reaver tudo aquilo que um dia tive mas não imaginava um dia poder esquecer ou perder. Não há nada mais triste do que esquecer quem realmente somos ou de onde realmente viemos. É em nossas origens que reside nossa base, nosso cerne. Não haverá futuro sem passado e não há passado sem um futuro. Cada vez que olhar para essas paredes, esses móveis, lembre-se que em cada tijolo desses reside seus piores e melhores momentos. Amanhã você não estará aqui para ver e ouvir, mas essas paredes estarão para contar, a quem estiver disposto a ouvir, todas as suas lembranças e emoções. Você se vai, mas as paredes, jamais...
Por: Robson Rogers
2 COMENTE AQUI:
Medo do garotinho. o.o
SOMOS HOJE O QUE VIVEMOS ONTEM,AS PAREDES FICARAO PARA AQUELES APEGADOS AO MATERIAL DE FORMA AFETIVA,POIS CASO CONTRARIO,FICARÁ SOMENTE NA MEMORIA AS HISTORIAS AS QUAIS SE VIVEU,NAO EXISTINDO AS PAREDES PARA CENARIO...BJUSSS ANGELA
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